Filosofias japonesas para controle do stress
9 de outubro de 2023
A cultura japonesa tem uma visão única da natureza. Desde sua origem no período Jomon, seus ancestrais já viviam em meio à ela e nunca a agrediram ou desrespeitaram. A noção de que o poder da natureza é bem maior que o poder do ser humano é a razão do respeito e do cuidado, das tradições que passam através das gerações, valorizando seu fluxo. E a valorização da natureza tem despertado interesse em todo mundo. Além de demostrar que algumas práticas são muito úteis no controle do stress, elas também servem de pausa e alívio na correria da vida urbana.
No documentário A Sabedoria da Culinária Japonesa (Prime Video), o famoso chef Yoshiro Murata fala sobre a importância da água potável abundante no Japão, sendo ela a base da culinária do país. “O Japão sobreviveu 300 anos de isolamento sem precisar importar nada. Os rios descem as montanhas e inundam a terra, criando um solo fértil e rico. Arroz, trigo e soja, junto com micróbios, viram temperos fermentados”. O Japão tem arrozais que estão cheios de água. Entre os arrozais se plantava soja e os peixes chegavam dos rios até o arrozais e se procriavam. Então, havia sempre uma fonte de arroz, soja e pequenos peixes, importantes fontes de proteína para sobrevivência da população. O documentário reflete a importância que o povo japonês atribui à natureza e às tradições milenares.
Então, trazemos aqui duas filosofias japonesas que são muito úteis no controle do stress. Elas podem ser adotadas e adaptadas para nossa cultura ocidental. Coloca-las em prática pode trazer benefícios imensos e uma longevidade mais saudável e feliz.
Shinrin-Yoku: Banho de Floresta
O Banho de Floresta está sendo praticado em muitos lugares pelo globo e sendo considerado uma atividade terapêutica. Inclusive, o termo mindful travel está sendo utilizado por agencias e sites de viagem, com indicações de caminhada pelas florestas como parte de roteiro turístico.
Países como Costa Rica e Nova Zelandia podem ser um destino interessante para viver essa experiência. Aliás, segundo a National Geographic, a Costa Rica tem mais de 50% de seu território coberto por florestas e quase 60% da biodiversidade do mundo. Por outro lado, a Nova Zelandia é berço das mais antigas árvores Kauri do mundo, consideradas pelo povo Maori como protetores da floresta. E nossa Floresta Amazônica, sem duvida, oferece uma experiência belíssima, energética e abundante. Mas, para praticar o banho de floresta com frequência, temos a opção de parques e bosques em algumas cidades onde é possível vivenciar a prática e colher os benefícios.
O banho de floresta nada mais é do que passar um tempo junto à natureza. Observar os raios de sol, admirar as copas das árvores, ouvir o som dos pássaros. E essa experiência vai abrindo espaço para a intuição e ativando os sentidos. Respirar, admirar, tocar, ouvir, sentir. Tudo isso se transforma em bem-estar físico e mental.
Para que esse detox energético seja uma experiência completa, evite o celular e o mundo digital. Mergulhe na natureza tocando nas árvores, abraçando o tronco, respirando o ar e percebendo os aromas. Se tiver um rio, melhor ainda! Sabe aquela frase “Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio”? Então, observe o fluxo da água, percebendo que nós mudamos também e não somos os mesmos internamente quando nos conectamos conscientemente com o que está ao nosso redor. Praticar com frequência o banho de floresta é trazer mais prazer e sabedoria à vida.
Wabi Sabi: a beleza da imperfeição
Essa é uma definição simplista para uma noção tão profunda e que está presente o tempo todo na cultura japonesa. Uma espécie de filosofia de vida, de intuição, de conceito artístico, de sabedoria atemporal, que torna belo o imperfeito, valoriza a simplicidade e aceita a transitoriedade das coisas.
Então, o que é o Wabi-Sabi? é um princípio milenar que nos ensina a nos relacionar melhor com a natureza e nos faz entender que ela é parte fundamental do que somos. Desse modo, podemos aceitar a “perfeita imperfeição” ao nosso redor e nos inspirar para vivermos melhor. Segundo Andrew Juniper no livro Wabi-Sabi: A arte Japonesa da Impermanência, é “uma apreciação intuitiva da beleza efêmera no mundo físico que reflete o fluxo irreversível da vida no mundo espiritual”.
Pode estar relacionado a paisagens, objetos ou ao próprio ser humano. Um pote com rachadura, a madeira de uma porta velha ou o reflexo distorcido da lua em um lago podem ser entendidos como apreciação de uma beleza que vai desaparecer ou a contemplação de algo que fica mais belo à medida que envelhece. Não à toa, o Japonês é o povo que mais respeita seus idosos e que reconhece nos seus ascendentes, a sabedoria e o conhecimento que são fruto de vivência e fonte de ensinamento para os mais jovens.
Para entender mais sobre o Wabi Sabi, o livro de Beth Kempton pode ajudar. A partir de uma alimentação mais consciente e de um olhar com mais gratidão e amor ao corpo, a filosofia propõe formas de reduzir o stress para viver mais e melhor. E para artistas em geral, o livro Wabi-Sabi: For Artists, Designers, Poets & Philosophers, de Leonard Koren, é uma fonte de inspiração para desenvolver uma arte pautada na ressignificação, no sentir, no experimentar.